sábado, 31 de julho de 2010

receita da vovó

aprendi com dona Vida a incansável tarefa de fazer café. nunca tão doce, nunca tão amargo. um misto quente do que não é tão bom, mas dispensa reprovações. e que assim seja pra sempre.

Dona Vida, hoje, diz olá.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

o rio que faz a curva, sempre deixa a desejar.

Detesto essa brisa amarga que me cega e faz da memória um pavio curto. É insatisfação doente de mim.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Confessionário


- Angústia é fala entupida. ac

- ...e entope que é uma beleza! n.

Amém, ansiolíticos.

Deus fez sentido
até a Revolução Francesa.
Depois surgiram novos deuses
bem mais eficientes como os
antibióticos, os ansiolíticos
e os anestésicos.

Pinky Wainer

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ritual

Um ritual. É a melhor definição para se iniciar um dia. É assim que Ela prepara o café da manhã. Primeiro o despertador, depois o celular, uma sequência caótica de agudos para o ouvido de quem escuta. Todos desesperados para Ela terminar a noite, para Ela começar o dia. Mais um dos muitos vários dias de sua vida. Foi assim numa quarta-feira em que, ainda mais cedo, resgatou em si o cansativo dia que estava por vir. Era dia predestinado ao cansaço. Um misto de TPM anunciada com aflições homéricas. Um desatino só. Sua agenda estava lotada. E era evento para a vida toda. Era rodízio e era tarde também. Já passava das seis. E toda quarta-feira era o mesmo drama. Nada mudava. Acordava e discordava de tudo em seu redor. Os gatos dormindo, o corpo na cama, a água na cara. A falta de verbo. Odiava lavar o cabelo, pois Ela precisava secar em seguida. E o barulho do secador já entrava na sua cota de motivos para enxaqueca do dia. Antes de qualquer dor de cabeça, não refutava o hipocondrismo crônico que diagnosticara em alguma mesa de bar. Virava com água de pia qualquer analgésico besta. Remédios bastavam. Bastavam até passar o efeito. Existia uma coleção de brincos, mas Ela sempre repetia o mesmo. Às vezes, sequer combinava com o sapato do dia, mas era assim que Ela fazia. Sempre num ritual torto de ideias só delas. O relógio da sala, de tanto atrasar, já voltou um dia inteiro no tempo. Todo esforço na tentativa de não se atrasar. E refletia para si a parede vermelha. Ela não ligava para seu o pequeno fracasso. Vestia os sapatos, tomava o seu café e se indignava por ter sido um dia dona de bar. Deveria ser melhor, mas o café teimava em queimar ou aguar. Tomava a chave do carro sobre a algibeira da cama e, num segundo de paz, olhava para os seus 3 gatos. Sempre numa sequência barroca; uma dormia, outra comia e a terceira sempre me olhava. Amortecida por mim. Apaixonada por mim. Era minha paixão de patas. Assim Ela pensava e, como prova de amor eterno, piscava numa maciez dos olhos que só elas entendiam: Ela e sua felina trocavam juras toda manhã. Lembrava do atraso. Lembrava que precisava partir. Lembrava também que precisava de um livro. Qualquer um da prateleira. Qualquer um para ilustrar o seu dia cinza nas horas em que o computador resolvia dormir sem avisar. Nessas horas, Ela abria a primeira gaveta e lia sem culpa. Dessa vez tomou para si um pequenino que estava lançado no meio da sala. Talvez por alguma festa noturna dos gatos. Sempre com um copo no chão, pêlos e mais pêlos, a casa, quando acordava, era um resquício do que se fez noite. O livro causou estranhamento. Tamanho. Não gostava da falta de concordância. E pior: era verbal. Verbo não se brinca, pensava Ela. E, indignada, continuava a folhar o livro. Frases non sense, imagens non sense, era tudo non sense. Não tinha parágrafo e isso incomodava. Na verdade, tinha tudo para ser interessante, mas não era. Ela deixou para trás e correu até o elevador mais próximo. Esquecera a chave no lado de fora da porta, mas só notou o fato quando a história acabou. E já era tarde para retornar ao pensamento. Seu carro estava. Ela gostava de terminar frases em verbo. Aqui, já era excesso. Deixava que a frase se completasse sozinha. Ela dava vida a essas palavras que eram só delas. Ela era ciumenta e não sabia. Tinha ciúmes de tudo o que era parte dEla. Da música que, toda manhã, precisava decidir. Era sempre no porta-luvas. Nas pequenas epifanias. Escolhas mistas. Era disso que Ela vivia. Naquele dia, decidiu por não decidir. Num ato heróico de si mesma, tomou para si o rádio e apertou o botão vermelho. Antes de o som preencher o mínimo ambiente do carro, Ela entendeu. Sua dependência era também crônica: clássico, para os dias românticos e calmos e criativos e tudo o que é azul-areia; Janis ou coisa que o valha nos dias mais quentes. Era também do jazz, às vezes do blues e muitas vezes do bom e velho chorinho. Era amiga de Tom, Ela pensava aflita. Amiga das horas vagas. Das horas bandidas. Era só falar nele que já vinha aquela malemolência toda dEla, aquele gingado de se falar amando, de se falar devagarzinho. Ela encarnava. Achava que poucos a entendiam tão bem quanto Tom e Vinícius. Era ela e o seu eu-lírico. Na briga, eu-lírico ganhava. Sua companhia preferida, o tinha no peito como animal de estimação adestrado. Na rádio, Ela tinha preferência e não hesitava em dizer. Sua estação predileta, aquela dos clássicos. A música penetrava, enquanto o pé acelerava o caminho do dia. O locutor, no banco do passageiro, ditava o seu monólogo como chef de cozinha que orquestra o prato principal. Era um metido ‘a la francês’, falava com propriedade até demais para se falar de arte. Para mim, proprietário tem nome e sobrenome. Ela rosnava para o rádio, mas não conseguia evitar. Era Bach. E o trajeto até o escritório seria apaixonantemente orquestrado por quem sabe. Por quem de fato tem propriedade. O prédio caia no elevado. Era São Paulo sem semáforo e era o primeiro prazer. Acelerava como quem rasga o sorriso, com presa de primeiro encontro. Pisava fundo e não pensava no limite. Era imprudente. Ela sabia dos sentimentos guardados de dona Morte. Ela arriscava por um amor de outro mundo. Achava que era gato. Não morria nunca, na verdade. Era um tipo de eterno dolorido. Amava olhar os prédios ao redor. Ela tinha amigos e eles sequer sabiam. Sempre pensava em escrever um conto para cada um, mas lembrava que era da poesia, não era da prosa. Nunca escrevera um conto, nunca chegara ao final. Sempre sem pontos, Ela se bastava, mas, no fundo, o que queria era contar os dias. Amava dias azuis e aquele era um deles. Ela se inspirava facilmente. Era sempre cedinho. Tomava para si um gravador num lance de fúria e ditava o pensamento. Se pudesse, Ela pararia o carro, tomaria para si um papel e escreveria loucamente. Como numa sessão espírita. Verborragia que esmera os dentes. Ela não podia. Na cidade, a lei não era dEla. Para toda fúria, sempre existe um REC. E para toda poesia dita, um silêncio amargurado. Era a inspiração tentando tomar corpo, tentando ser voz. Poesia no filtro da fala perde tempero. O que não perde é a inspiração que se exalta por todo elevado. Ela dava nomes. Precisava etiquetar os ovos da geladeira. Antero, seu predileto, a aguardava sempre na volta. Sempre na noite, nunca cedo. Da janela, ele sempre acenava e escondia, provavelmente, da esposa, uma coleção de garrafas vazias. Talvez, na tentativa de completá-las, ou simplesmente para encarar a vida. Era vodka barata. Todas elas ficavam amontoadas no canto de fora da janela. Bebia escondido. Pensava Ela. Entre tantos outros vizinhos, o elevado encurtava na inspiração que se perdia. Era sempre assim: a música alta e a habilidade só dela de se maquiar entre os carros. O corretivo tinha tempo próprio; precisava acabar no semáforo da Barra Funda. Eram duas quadras para finalizar a base no rosto e uma quadra para o batom. Deixava o restante do caminho para possíveis retoques. E retoques era o que mais precisava para a sua vida. Nunca perdera o controle, sempre tomou para isso aquilo como parte. Era ritual, pensava novamente Ela. Amava o atalho que encontrara até o escritório. Era rua livre, de poucos buracos. Não respeitava muito a sinalização. Entendia amarelo como verde e, às vezes, vermelho também. Ela se bastava na ideia de não ter matado ninguém. Afinal, Ela seria incapaz disso. Poderia se matar tantas vezes, mas nunca uma mosca, nunca alguém. Nem ninguém.


Entre um viaduto e uma construção, não importando a ordem, mas sim o que era cinza, Ela decidiu pensar com os olhos de dentro e tomou para si o que era dos outros. Preciso de uma auditoria em minha vida. Preciso de ISO. É isso! Talvez a burocracia a salvasse de seus demônios. Quero o meu também. Ela achou o sentido daquele dia e tomou rumo para o que já era azul.


De quase sempre chegar, Ela não se bastava em acelerar mais. Tinha objetivos secretos. Ela se realizava quando completava uma sonata. Era o seu gozo matutino diante do asfalto. O tempo, entre um ponto e outro, numa sonata. A fazia pensar o dia como Clarissa Dalloway. Existe trauma por trás disso tudo, tinha medo do que é ciclo, do que é começo, meio e fim. Do que era um lado e o que era outro. Não gostava de rótulos teóricos. Ela não era boa, mas não era má pessoa. Ela era e ponto. Sempre avoada, Ela chegava à procura da melhor vaga. Desejava uma vaga própria. Aquela em que tivesse o seu Nome. Estrela de Hollywood em estacionamento de Blockbuster.


Naquele dia não foi assim, mas Ela sabia esquecer e sorria na presa de chegar. Parou o carro como quem para a brisa. Num sopro único. Ela guardou o rádio e arrumou o cabelo. A música era final. A sonata no seu adeus. O escritório pedia por pernas. Quatro na matemática exata. E para isso, bastavam degraus. Não tinha livro para deitar sobre a mesa. Naquele dia, lançou sobre o chão, ao lado da cadeira azul, a sua bolsa e tudo o que era conteúdo nela. Na busca por seu celular, se encontrou na ausência dele. Não em casa. Lembrava dele no trajeto. Refazia toda a bolsa. Tudo o que não precisava estava ali; clipes, pulseira, absorvente, moedas, lembranças. Não o celular. Como em bula de remédio, partiu logo para os efeitos genéricos e, num suspiro de antemão, sem pensar, apenas ação, correu o trajeto até o carro. Num desejo dos tantos do seu dia, aceleraria para a viagem da sua vida. Aquele caminho sem volta, mas que sempre volta no final. Não podia, era adulta. Ao menos, precisava ser. Não poderia ser impulso, mesmo nascendo do outono. Ela desistiu do caminho e da ausência. Regressou a volta. Agora, precisava de oito pernas, mas só tinha mãos. Ela cansava na metáfora barata dos seus pensamentos. Queria ideias. Ela não tinha memória e isso a intrigava, sequer irritava, de fato intrigava. Alguns diziam que era estresse, outros diziam que era descaso, poucos não ligavam. Ela era. Eu era. Foi esse o primeiro pensamento antes das borboletas do seu estômago. Ela sofria de poesia e, num dia desses, doutor dissera alexitimia. Era por toda sintomática. Era o acesso do sentir e ela precisava disso para viver. E pensou que poderia estar apaixonada ou com fome ou com qualquer outro sentimento que se dizia sintoma. Mas não, não havia amor ali, era só ausência. Ela sorriu gentilmente. E, gentilmente, foi sorrida. O almoço deixou por conta do acaso. Nada de casos, nem compromissos. Apenas carinho de si mesma. Ela precisava da própria atenção. Deixava de ser poesia.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Winterreise

 
(...) e o Viajante, sozinho de amor, se torna inverno. A neve, de toda pálida, o esquece perene, como o faria às notas de um violino numa tempestade.


gute nacht!

sábado, 24 de julho de 2010

Definição Crônica

O amor não se pode definir; e talvez que esta seja a sua melhor definição. Sendo em nós limitado o modo de explicar, é infinito o modo de sentir; por isso nem tudo o que se sabe sentir, se sabe dizer: o gosto, e a dor, não se podem reduzir a palavras. O amor não só tem ocupado, e há-de ocupar o coração dos homens, mas também os seus discursos; porém por mais que a imaginação se esforce, tudo o que produzir a respeito do amor, são átomos. Os que amam não têm livre o espírito para dizerem o que sentem; e sempre acham que o que sentem é mais do que o que dizem; o mesmo amor entorpece a idéia e lhes serve de embaraço: os que não amam, mal podem discorrer sobre uma impressão, que ignoram; os que amaram são como a cinza fria, donde só se reconhece o efeito da chama, e não a sua natureza; ou também como o cometa, que depois de girar a esfera, sem deixar vestígio algum, desaparece.

Matias Aires, in 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna'

Dispersos banidos

te devo a fome de banir o que de branco e preto basta. doído como canção que chora, passa lá fora teus medos de saia. tão mulher que do salto perde vista. tão fiel que do olho teme a imundice. tão tudo o que não se deseja ouvir, perdição que dorme o travesseiro. aquieta o colo e pulsa maduro o que te faz amar. veste guerrilha e luta por tua pátria. faça-te herói de mil faces e luta o desassossego que te ronda o sono. diante do frio, te tenhas em meu amor de luvas, todinho o toque de mãos. tão teu que te confundo com o que de meu é herança.

Princesa desalento

Ah, que saudade da mais querida! Daquela que é poesia por toda ela. A primeira de uma vida inteira de rabiscos mil...

Teu nome é.

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!
Florbela Espanca

sexta-feira, 23 de julho de 2010

"(...) Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro - preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não-entender. Era ruim, mas pelo menos se sabia que se estava em plena condição humana."

Clarice Lispector

my Johnny Cash

Sim, ele é. Amor pra vida inteira.

E elas, as meninas do papai.


If we're ever parted
I will keep the tie that binds us
And i'll never let it break
'cause i love you
JC
Temo a solidão mais do que todas as falácias deste mundo. Inclusive a minha.

mutum é tão bonito...

Ela me olha
ou sou eu quem olho? Se ela sequer olhos tem..

quinta-feira, 22 de julho de 2010

quarta-feira, 21 de julho de 2010

intimidade

minha escrita é sintomática e dolorida. às vezes sinto demais. ou de menos. inconstância crônica do que sou e irrita.

hoje?

sou voyeur.

terça-feira, 20 de julho de 2010

negativismos tibetanos

a matemática definitivamente me deprime. e é crônica essa insatisfação. ah! quanto drama..

e quanta hipérbole, deus meus!

quanta hipérbole!!!

leia-se: quanta dívida, deus meus! quanta dúvida!!! (ato falho!)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

contágio

às vezes meu dilúvio é crônico demais para se fazer entender.

e o detesto por tanto amar.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

utilitários

Tenho em mim um universo inteirinho de qualquer coisa. E são tantas essas coisas que não me acho nunca. Um emaranhado de roupas velhas, retratos inacabados, ausência de colo. E me canso nele como quem faz moinhos e tira do leite só o branco dos olhos.

,

Que saudade é essa sem dono
que corre solta sem juízo
e chora por teu afeto bandido.

Deus faz chover!

e o teu canto no peito, aquele negro de tudo

em latitude do que não é.

meu ateliê inteirinho no que te distrai

e esse céu que tu roubou de mim

ficou assim:

vanilla sky!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

sinestesias

A leitura é uma troca de afetos.
[Matilde Rosa Araújo]

pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida ineira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o
[pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

[Manuel Bandeira]

quarta-feira, 14 de julho de 2010

veredas na areia

pernas e mãos

- Abre as pernas! - disse a menina.

E o menino sorriu como quem de pernas nada entendesse.

terça-feira, 13 de julho de 2010

New York

Ah, baby baby


meus olhos
na tua saudade

e meus desejos
nas tuas avenidas


todos os loucos se encontram em ti, querida! - já dizia o poeta.

por ti, meu coração é.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

COMO um samba de adeus

Teu revólver é mira. Tiro que desfarça. Tua boca, veneno que me golpeia e em silêncio amarga o beijo. Tuas mãos no gatilho e meu peito. Buraco certeiro no coração de quem dança. Tua valsa é doce. Melodia em perfidia tola. Teus olhos na minha queda querem mais. Pedem sangue. Rasga o verbo. Te dou um grito e lanço-me no chão. Finjo. É asfalto quente em sol do meio-dia. É ferida que se fecha aos sábados. É tormento.

O meu gosto é ácido puro. Em meu sangue, o meu segredo. Morro em teu enredo. Morro hoje e a cada instante.

Não me canso nunca.
Não me queixo na reticência da tua bala. Bandida.

Abro os braços e (mais uma vez)

faleço em mim.

monólogo íntimo II

A gente sempre acha que é buda.
- Já notou isso, querida? meu eu lírico dá bandeira.

domingo, 11 de julho de 2010

monólogo íntimo

A gente sempre acha que é Fernando Pessoa.
- Já notou isso, querida? meu eu lírico dá bandeira.

menage

Te dou meus segredos

de quatro,
eu parto bandida.

e repito baixinho
o que não mente pra mim
[e a mim não pertence]

teus olhos e todos mais
- cama de gato em mentiras sinceras.

as tuas pra mim.

e dela.

as delas.

um quarto secreto
uma musa na cena
que obscena!

- ela acena pra mim

Teus segredos são meus.


so,

change your heart , my darling

"Também eu saio à revelia

e procuro uma síntese nas demoras"

Ana C.

madrugadas

Ela esquece o sono, mas refuta o corpo. Ela precisa esquecer o dia, dar espaço para a noite. É impossível, pensa ela. Numa insônia única, daquelas que a maquiagem não disfarça a latência nua, ela prende a respiração. Num silêncio só dela. E sente. Toda a vida em seu pulmão. E escolhe soltar o ar. Uma segunda chance. Da janela, a inspiração rodopia louca. Observa atenta, desfia a meia, mas resiste o vinho. É tarde pra mais uma tatuagem. Nunca pra um tango argentino.

Ela respira aliviada.




sábado, 10 de julho de 2010

o mais longo crescendo do mundo

Ida Rubinstein me faz mais feliz hoje. Dança no pensamento. Não cansa nunca ao que resiste puro. Convence.

A ela, e somente a ela, agradeço pela rima perfeita.

Se o amor é como um grão

morre nasce trigo
vive morre pão
.
.
.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

bomba caseira

letargia em sua dose máxima

resisto.

Teu vício

O que adoça teu café, gruda nos dentes e irrita a gengiva. Não é doce, sequer amargo. É ácido e corrosivo, transpassa os poros, encontra abrigo na epiderme e sangra os cotovelos. Todo o sangue que te anfetamina a vida é café puro traduzido em dor. Em dor maior, bemol e sustenido a quatro...canção essa que não te faz ouvir o que te leio só de olhar pra ti.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

alegoria do círculo perfeito




Silenzio,

no hay banda! There is no band! Il n’est pas de orquestra! This is all... a tape recording. No hay banda and yet! we hear, a band. If we want to hear a clarinette... listen... Un trombone “ŕ coulisse”. Un trombón “con sordina”. Sient le son du trombon in sourdine. Hear le son... and mute it... drop it... It’s all recorded. No hay banda! It’s all a tape. Il n’est pas de orquestra! It is... an illusion.

halterofilismo puro

por vezes, sou sentimento demais num corpo de areia e mel. entender o que de mim arranca? tenho apenas o que tranca.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

"Les temps sont durs pour les rêveurs"

requer muito amor e um coração de titânio que só os sonhadores de plantão têm.


Miau

Eu amo de um jeito bicho, mansinho de gato. E de gato, me enrosco nas tuas pernas, te cuido felina e te sossego num dengo de amor só meu. ...