terça-feira, 30 de junho de 2009

“II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente”

Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
[Carlos Drumond de Andrade]

Se em ti minha ternura escurece, traga fora um bocado de aus
ência e, dito isso, toma-te o sol que acorda às cinco.

Música Para

É linda toda assim. Ela é. E passa o céu, em azul dos olhos, todo pra mim. É mergulho mortal em largo sorriso. É ela quem passa e olha pra mim. Sequer se demora, teus passos rasgados, é ela cantiga, doce menina, inteirinha pra mim.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Delirantes

Minha unha em vermelho perdido resvala ao esquecimento. Esmalte vencido em pote de ouro, velho marujo aos golpes roubados. Minha memória, aquário do que se perde entre a isca e a mordida, cega o desejo de fome que por ora devora quieta. E quieta se faz delirante.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

o outono em seu fim

tenho no jardim de casa
amoras para o inverno
e luvas para o coração.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Amour de pele

Te tatua em mim

Te tatua pra mim

em puro vermelho

te tatua pra mim, vai!

Porque de tatu aqui

só tu que te tenho em mim

Me tatua em ti...

..vai?!

Amour

Disposta a te amar mais, pintei as unhas de vermelho fatal e comprei as melhores flores. Era uma tarde de dalloway, em que esperava aflita a vida numa única página de canção num radinho azul de pilha velha. E não podia ser Beetles, precisava ousar mais. Precisava ser em flor, ter espinhos e um cheiro encantador. Precisava ser Piaf e precisava ser em branco e preto. Francês de tudo era o meu peito, o meu amor em versos sabia fazer biquinho e queria ousar mais. Disposta a te amar mais, te dei junto a espinhos, numa caixinha branca, meu coração cheio de dentes. E era flores o que transbordava, eram tuas num gole de cede seco a mim. Te dei sem sangue, puríssimo de si mesmo. Te dei ritmado ao que pulsa e pulsa por ti mesmo. Te dei em repetição um coração assobiado em la vie en rose, só pra te ter aqui, disposta a me amar mais.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Tinta fresca

Uma lágrima

por molhada que a faça

desce ao ventre

e molha

Tudo o que transforma

e ora por dias melhores


Tanto cedo

Quanto tarde


Apavoro-me nas horas

em que o tempo esquece

o que a mim devora


Reflexo vazio

em águas distantes de você

lágrima de ninguém.

Diagnóstico preventivo

O ar que prende, contamina.
E é assim, leve, átono de si, um típico sintoma gástrico em obturação do que se nega, irrita!

São dores crônicas ao peito e ânsia por lançar para fora do corpo o que incomoda.

Esvazio-me a ponto de livrar-me do que é doente, a ponto de sem perceber, causar a ti dores maiores..dores do que se morre.

Em segredo, xuxu, confesso: freud explica!
tudo o que me dói, sei bem que ele explica!

e mesmo assim...
..ainda dói.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Fitas Vermelhas em Coração de Metal

O que te faz crer no que inspira?

Respira..

..o ar que penetra, tambem sabe molhar.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ah! Se tuas unhas fossem mesmo vermelhas....

Tuas unhas acusam o que de mim não é, não morre e por horas não nasce. Tuas unhas vermelhas, postiças de tudo, sempre lindas, embora tuas, sorriem o que te é sangue e colore os lábios. Teu ar impossível, provoca a sede que se perde em taças de vinho finíssimo. Na falta do que confere, sapatos de verniz e uma silhueta que tropeça o crime não anunciado de teu pecado translúcido em sensualidade noir. É um gole de ar que me falta, expressionismo alemão puro.

Teu olhar nega os suspiros e rasga a fumaça que dança em tuas curvas. Teu cinismo paranóico paira leve entre o que é suspeito e o que te prende a angustia do outro lado. O pensamento queima o que me traga. É a tua boca vermelha que me toca, entre os dedos, uma pornografia de delírios. Abaixo dos joelhos, tua saia bandida que me rouba a vista de teu diálogo que incendeia.

São jóias caríssimas, relicários que declinam o rei que nada teme o teu império. É um filme noir em cartaz e nada mais.



Ah! Se tuas unhas fossem mesmo vermelhas....

Miau

Eu amo de um jeito bicho, mansinho de gato. E de gato, me enrosco nas tuas pernas, te cuido felina e te sossego num dengo de amor só meu. ...