sábado, 27 de novembro de 2010

só de olhar para ele

"Ele não é mais o mesmo" e era esse o meu medo.


Quando cheguei na casa de praia, toda a vaidade do mundo já não era bem quista há algum tempo. Ele havia deixado de lado as golas esporte, dando espaço para o pijama velho - presente do Natal de 98. 
O dono da casa, agora, precisava de ajuda para ir ao banheiro. Era humilhante demais, repetia ele. E eu, na tentativa de amor, explicava que família era isso. Que amor era isso. E que isso, era o que mais tínhamos no bolso esquerdo. 


Passei a notá-lo.


Os ombros se tornaram tímidos, na tentativa de me olhar. As mãos trêmulas, antes escondidas do que poderia se chamar doença, esticavam os dedos em direção às minhas. Era quase uma alegoria, um rito de passagem. Todas as histórias mil que ele adorava contar quando sentávamos juntos na varanda, agora eram reclamações. O cachorro que latia alto, a tampa da panela perdida ou o cabelo da nova "presidenta". E eu, já na saudade por dentro, sorria de antemão o que já era de se esperar. E no final de tudo, caíamos na gargalhada. Minha mãe dizia: "tudo louco, tudo louco". 


Dessa vez, não foi diferente. Até a hora de ir embora. 


Ele me pediu segredo. Pediu que eu cuidasse dela. E se desculpou por toda a doença do mundo. Disse que queria ficar mais, mas a dor era inevitável. Doía até os ossos. E isso, ele não queria mais. 


Disse que entendia a "ânsia que os cristãos sentiram quando jogados aos leões". E ele, sequer cristão era. 


Num egoísmo só meu, pedi que ficasse mais.

Um comentário:

Fernanda disse...

Seu post mais lindo. Comovente demais! E triste. Mas a vida é assim. E dói demais em nós, mas nada resta a fazer, só aceitar e tentar se preparar, sempre pedindo que o tempo nos dê uma trégua, um pouquinho a mais só. Não é fácil. Mas conte comigo pro que precisar!
=*

Miau

Eu amo de um jeito bicho, mansinho de gato. E de gato, me enrosco nas tuas pernas, te cuido felina e te sossego num dengo de amor só meu. ...