Encho os pulmões, o ar é puro e o Sol é pouco. Não é outono, não é inverno, nem nada do que se distingue em si. É estação-das-dores. O frio que corta, penetra a estratosfera do coração. Encho os pulmões para dizer:
- Ah! baby, baby... de dona New York, basta-me eu!
E vos digo o que nenhum pensamento exclui do que aqui voa o continente.
Christopher St insiste. Convida-me na surdina para uma tarde linda. [azul de tudo, belíssimo entre os ladrilhos!] Com meu allstar branco surrado, cachecol a tira colo, a praça dos loucos me ponho a risco. São cores em gerações assustadas, miscigenação à toa e dolorida da Big Apple.
Era tarde e era ali, naquele pedaço de chão, quieta de tudo, observava ávida de fome. Com meu almoço chinês nas mãos, ri por entre os dentes. Eram loucos e eu sozinha. Eu era resto, ditavam-me por resto, normalzinha demais para acompanhá-los no meio-fio. Uma reticência a mais, expansão de corpos. Desisti do que ensandecia os pulmões. Atravessei a rua como quem não olha pra trás. O mito apregoado ao que povoa em mim. Não queria, de fato! E de todos, um único fato vencia. E não podia! O que queria era o outro lado, o de lá do coração, artéria perdida por entre o que sente, pulsa em vermelho-vida. Papel-poesia
em tinta que me incompleta.
Não era necessário elevador. Bastava os dedos para contá-los. Apenas pernas, pernas essas que ali as tinha cansadas e por toda fachada. Levei a mão à boca. Corada, o vi. Espreitava ele a mim, em segredo. Dois corpos num asfalto de pensamento. Sempre muito gordo, muito londrino, um verdadeiro estrangeiro em si, mas era lindo e me amava com os olhos. Ah! que amor puro entre os pêlos a mim me dava! sem que confessasse, sabia que seria pra vida toda. Eu me entreguei a ele,
e como quem adivinha, ali, o meu furto frutífero: sempre na rua, eu era a estrangeira.
Em distração, estava à beira do Hudson.
Aqui de fora ele molha, de dentro, afoga. E molha mesmo quando se ama. Foi na grama que me avistei e ali parti como quem chega. Revoada do que pulsa, pulsa em mim, para mim e de mim... tudo para aquele gato gordo de que tanto amei.
2 comentários:
Delícia de ler esse tom meio melancólico, meio romântico, meio leve, meio debochado.
Gostei muito, Fê.
Beijinhos!
Só não vou dizer que adorei porque você ainda não colocou meu blog "do lado de lá". Nada digno!
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