Olhei-me para dentro. Não mais, as pupilas se abriram para mim. Entrei. Era escuro e empoeirado, era frio. Sem janelas, quadros ou flores, eu vi ali um quarto vazio. Lançado ao chão, um novelo vermelho perdido e velho. Peguei-o para mim e, sem pensar, já o amava. Tentei encontrar a ponta mais próxima e conhece-lo por sua essência, porém o nó não permitira. Olhei para minhas mãos que de tanto tentar, encontravam-se sujas de uma sensação familiar, sujas de um sintoma, de um medo, amor. Assustei-me. Lançado o novelo ao outro lado do quarto, prendi-me à parede mais próxima. Era medo apenas. Encolhi-me toda, dos dedos à cabeça. Não queria sentir. Pensei em sair, mas notei a falta de portas. O calor, nova sensação, aquietou-me em silêncio. Num suspiro ensaiado, regressei os pés ao chão e segui rumo ao novelo. Decidi, mesmo com medo, tirar todos os nós daquele pedaço de pano que tanto parte de mim fazia. Descobri-me feita de panos e desconstruí, linha a linha, meus desejos, lembranças e nós. Fui me conhecendo por quem não era. O tempo passou e de luvas, fiz um novelo. Luvas vermelhas: uma parte de mim. Pronta, aceitei o que a mim havia sido dado. Com um pedaço de giz que guardava em meu bolso, rabisquei a minha saida. Sai. Arrumei a casa e me vi, diante um espelho. Com pupilas fechadas e um lindo par de luvas vermelhas, tornei-me favo, nobre bailarina.
Um comentário:
Começo a ver forças em tí.
Será que é tempo de Deixar-te ?
Diga-me.
O Guardião.
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